LISBOA (Crónica de PATRICIA SARDINHA, directora adjunta de NATURALES - Correio de Tauromaquia Ibérica)
Numa noite de emoção e comemoração, a praça de toiros do Campo Pequeno engalanou-se para mais uma quinta-feira de toiros, assinalada também pelo 50º aniversário da RTP. Como tal a noite foi de gala e a casa encheu, pondo-se bonita para quem estava presente mas também para quem assistiu pela televisão estatal ou pelo site da Internet. Uma corrida que ficou também marcada por ser a primeira de Gala à Antiga Portuguesa na praça de toiros lisboeta desde que esta foi reinaugurada. Foram cavaleiros intervenientes nesta corrida, Joaquim Bastinhas, António Telles, Rui Salvador, Luís Rouxinol, João Moura Caetano e o praticante João Telles Jr. Os toiros pertenciam à ganadaria mãe, Pinto Barreiros. E os grupos de forcados foram três, os de Santarém, os de Lisboa e os dos Aposento da Moita. Musicalmente, a Banda da Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense abrilhantou este espectáculo de altíssimo nível, considerado unanimemente um dos melhores nos últimos tempos por toda a crítica.
O primeiro toiro, castanho com 602 kg, um típico Pinto Barreiros, foi recebido por Joaquim Bastinhas que citando de praça a praça lhe cravou o primeiro ferro comprido, e depois mais um segundo com o toiro no centro da arena. Com a rês a mostrar-se um pouco andarilha, mas nobre e com codicía, Bastinhas deixou um primeiro curto ligeiramente descaído, mas depois a actuação foi a mais, com a boa colocação dos ferros, sortes bem preparadas, e sempre com uma enorme comunicação entre o cavaleiro de Elvas e o público. Facto notável, de ao fim de tantos anos, Joaquim Bastinhas continuar a ser um caso de popularidade nas arenas nacionais. No final e como é de praxe, a saída do cavaleiro não foi autorizada pelos aficionados que praticamente lhe exigiram o par de bandarilhas que Bastinhas deixou correctamente. Diogo Sepúlveda pelo grupo de Santarém saiu lesionado num olho após uma primeira tentativa em que no momento da reunião o forcado não se conseguiu fechar bem, consumou contudo uma boa pega ao segundo intento.
António Telles colocou o primeiro ferro comprido à porta gaiola numa boa execução da sorte. O toiro com 542 kg, revelou-se com sentido, não se fixando e adiantando-se sempre à montada. Na ferragem curta, António teve que recorrer ao engano do toiro, evitando que este se adiantasse com sortes à meia-volta. O público entendeu o esforço do cavaleiro da Torrinha, aplaudindo-o bastante. Francisco Mira do grupo de Lisboa fechou-se bem à segunda tentativa com uma valorosa primeira ajuda, após um primeiro intento falhado em que o toiro recuou no momento do grupo se fechar.
Rui Salvador que cumpria naquela noite 23 anos de alternativa, recebida ali mesmo naquela praça pelas mãos de José Mestre Batista, recebeu o toiro com 530 kg citando de praça a praça, em sortes frontais, deixando excelentemente três ferros compridos. Cravou de alto a baixo o primeiro curto, depois deixa um segundo ferro ligeiramente descaído, mas recompõe com ferros em batida ao piton contrário, correctamente deixados num toiro com temperamento. João Camejo do grupo da Moita consumou à primeira tentativa uma pega à barbela.
Frente a um toiro colorau, com 563 kg, Luís Rouxinol teve uma lide de menos a mais. Regular na ferragem comprida, foi nos curtos que se destacou. O toiro com a cara alta, sem se entregar no momento da reunião, foi dobrado pelo cavaleiro, que o colocava nos terrenos certos, deixando bem três ferros curtos, seguindo-se um de violino, um de palmo e claro, o público de pé, clamou também pelo par de bandarilhas onde Rouxinol não defraudou. Pelo grupo ribatejano, João Pedro Seixas Luís efectuou uma pega tecnicamente perfeita à primeira tentativa com uma boa ajuda.
João Moura Caetano teve uma lide de entrega, frente ao quinto da noite com 560 kg. Citou de praça a praça, aguentando e depois cravando bem a ferragem comprida. Nos curtos andou sempre ligado com o toiro, com uma boa colocação dos terrenos, e em quase todas as sortes efectuou batidas ao piton contrário. Terminou com um bom ferro de palmo. João Vasco Lucas não se fechou bem à primeira, com o toiro a lesionar o primeiro ajuda, mas depois e apesar dos muitos derrotes efectuou uma boa pega à segunda tentativa.
O último toiro da noite, com 552 kg, coube ao jovem praticante João Telles Jr que o esperou à porta dos curros, saindo com muita pata, o que lhe valeu um forte toque contra as tábuas. Mas a raça toureira e as ganas do cavaleiro não foram a menos, recompôs na ferragem comprida, sabendo deixar o toiro nos terrenos certos, entendendo o oponente, cravando os curtos em sortes frontais, belíssimo o terceiro ferro e encerrando a actuação com uma série de ferros violinos. Ntinu Wen pelo grupo do aposento da Moita consumou sem dificuldade para ele, visto que o toiro era duro mas o forcado também, uma boa pega à primeira tentativa.
Dirigiu sem problemas esta corrida Agostinho Borges assessorado pelo Dr. José Manuel Lourenço. A noite foi de festa houve entrega por parte de todos os intervenientes, incluindo os toiros que não sendo verdadeiramente bravos se deixaram lidar. E só pode estar de parabéns a RTP por apostar e ainda acreditar neste tipo de iniciativas, mas também todos aqueles que acorreram ao taurodromo lisboeta compondo-o de beleza, alegria e aficion, assim como todos os que deram audiências à televisão do estado, assistindo confortavelmente a este espectáculo através do televisor, garantindo que a tauromaquia em Portugal não está, nem nunca estará morta.
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