O cartel da passada quinta-feira era um cartel bastante apelativo. Apesar de uma pequena alteração, justificável e admissível, do cavaleiro João Telles Jr. por Manuel Lupi, contava-se ainda com a presença de Vítor Ribeiro, figura de prestigio certificado e a actual máxima figura espanhola do toureio apeado, Manuel Jesús ‘El Cid’. Os toiros pertenceram à ganadaria de Ortigão Costa e em praça dois grupos de forcados, os do Barrete Verde de Alcochete e os Amadores de Coruche.
Vítor Ribeiro enfrentou um imponente toiro com 590 kg, deixando-lhe o primeiro ferro comprido numa sorte gaiola. Vítor bregou bem a rês, que depois, não se fixando, arrancou disposta para o segundo comprido. Repetiu a boa brega, onde o toiro revelou alguma fraca força de mãos, confessando-se andarilho na perseguição ao cavalo. Nos curtos, o cavaleiro citou de largo, deixando dois ferros ligeiramente a sillas passadas. O terceiro ferro, citou a curta distância e cravou de alto a poder, com o toiro a levantar alto a cara no momento da reunião. Bisou a sorte num quarto ferro, e dada a entrega e disposição do cavaleiro, o público exigiu-lhe mais um, que estando já dominada a rês, exigiu de Vítor maior risco, o que por sinal resultou num ligeiro toque na montada e numa passagem em falso com o toiro a não investir. Emendou bem depois com um ferro no sítio. A sua segunda actuação foi em crescendo. Começou por um primeiro comprido levemente traseiro, frente a um toiro com 580 kg, que cedo começou por se fechar em tábuas e não investir. O segundo da ordem foi regular. Nos curtos andou quase em batidas ao piton contrário, inicialmente não tão bem conseguidas, a andar precipitado, mas depois com mais serenidade, deixando a ferragem no sítio e agradando bastante o público.
Manuel Lupi, que reaparecia no Campo Pequeno depois da sua brilhante alternativa, não defraudou. Primeiro frente a um toiro com 530 kg, de córnea alta, que saiu com muita pata, acertando com os ferros compridos. Nos curtos a rês revelou-se distraída, a fechar-se em tábuas, tendo empenho o jovem cavaleiro em sacá-lo das querenças e colocá-lo nos terrenos adequados. Depois de um primeiro curto acertado, sofreu ligeiro toque ao cravar o segundo. Partiu frontalmente para o terceiro que deixou bem. Numa distracção nos agradecimentos ao público, e por alguma insuficiência na atenção dos seus peões de brega, sentiu-se apertado nas tábuas pelo toiro. O público pede-lhe mais um ferro, e depois de duas passagens em falso, com a rês a não acometer nas investidas, rematou a lide com um ferro violino bem conseguido. A sua segunda lide foi superior. Bem nos compridos, demonstrou calma, experiência e sentido de lide, num toiro com 585 kg, que também se revelou de investida parca. Citou frontalmente, partiu recto, e cravou certeiro. Destaque para o quarto ferro curto de muito boa nota, e um último a pedido das bancadas.
Do grupo do Barrete Verde de Alcochete, pegou João Salvação, à terceira após duas tentativas em que não se colocou bem; e Ricardo Francisco à segunda aguentando-se na cara do toiro. Já pelo grupo dos Amadores de Coruche pegou António Macedo numa boa pega ao primeiro intento; e o cabo Amorim Ribeiro Lopes também à primeira aguentando-se muito bem, com o toiro a levantar e a manter alta a cara.
Manuel Jesús ‘El Cid’, o aclamado triunfador máximo de San Isidro, veio com poder ao Campo Pequeno. Primeiro frente a um toiro com 485 kg, começou por se exibir com verónicas no capote. Com a muleta toureou essencialmente com a mão direita, com a rês a não humilhar muito, rematando sempre com a esquerda. Impôs mando nos passes, e delineou uma série de tandas soltas em que a entrega e o valor do matador sobressaíram frente a um toiro que foi a menos procurando refúgio nas tábuas. Com o último toiro da noite, com 545 kg, El Cid, demonstrou que afinal ainda se pode acreditar, mesmo sem corrida integral e com toiros por vezes frouxos, que o toureio apeado ainda faz vibrar as bancadas do Campo Pequeno. Voltou a estar bem com o capote. E com a flanela, desta vez ostentando-se mais com a esquerda, efectuou passes longos, cheios de temple, arrastando a muleta em circulares e sacando fortes olés. Destaque ainda para a excelente terna de bandarilheiros que brilharam tanto no tércio de bandarilhas como na boa brega e colocação do toiro para as sortes. No final da sua volta ao ruedo, El Cid, fez questão que todos os intervenientes, forcados e cavaleiros o acompanhassem em mais uma volta, de modo a serem brindados pela agradável noite proporcionada aos presentes na praça de toiros do Campo Pequeno.
A lotação da praça rondou os ¾ de casa, com um público de nacionalidade heterogénea, dirigindo com acerto António Barrocal, assessorado pelo Dr. Salter Cid. Os toiros de Ortigão Costa foram díspares de apresentação e comportamento, mas colaboradores no geral.
Apresentamos em seguida alguns dos momentos neste espectáculo, fotografados pela objectiva sempre atenta e oportuna de João Silva, chefe de fotografia do serviço Naturales - Correio da Tauromaquia ibérica:
João Salvação pelo Aposento do Barrete Verde de Alcochete
Manuel Jesús ‘El Cid’
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